No curso de pós-graduação da Faculdade São Bento da Bahia uma discussão me inquietou no decorrer das aulas de História Econômica do Brasil Colônia, ministrada pelo Prof. Alfredo Matta: o potencial continental da Cidade do Salvador no século XVIII e a possível decadência econômica deste centro urbano provocada por uma decisão política, e não o contrário, como aprendemos no decorrer de nossos estudos.
Muitas coisas foram debatidas como a preocupação de Portugal quanto ao crescimento de Salvador, a ponto desta rivalizar com Lisboa, a comparação do potencial econômico da cidade baiana, no século XVIII, à cidade de Nova York, na América do Norte, a insatisfação do crescimento comercial da primeira capital do Brasil por parte de Minas e Rio de Janeiro, assim como a ideia do embrião de um mercado, que de forma ascendente preocupava a todos com sua autonomia.
Duas situações me inquietaram, particularmente. Uma, a própria possibilidade de uma “sabotagem” em torno da “Cidade da Bahia”, teoria da conspiração esta que parecia envolver brasileiros de outras regiões, portugueses e, quem sabe, ingleses. Outra, a qual me deixa preocupado como professor em atividade dos Ensinos Fundamental e Médio, a possibilidade de estar dando aulas sobre a história da nossa terra de forma incorreta ou, na menor das culpas, sendo tão vítima quanto a garotada que nos acompanha em salas de aula.
Caso seja verdade, por que essa ocultação por tanto tempo? Dentro dessa possibilidade, qual o tamanho desse mercado incipiente, e ameaçador, dentro de uma região puramente agroprodutora, dotada de uma configuração monopolista? Haveria uma riqueza paralela a da agricultura de exportação? Além da possível “rasteira” por parte de Portugal com a transferência da capital do Brasil para o Rio de Janeiro existiram outras manipulações, até mesmo legais, para colocar a cidade baiana de joelhos?
Essas e outras questões me inquietam e desejaria compartilhar com todos a fim de que pudessem me orientar na busca por uma resposta ou, pelo menos, na possibilidade de uma discussão.
Fonte imagem
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Imagem 1: Salvador, século XVIII
Disponível em: http://www.mundoeducacao.com/historiadobrasil/motins-maneta.htm
Acesso em 05/10/2013.
Referências historiográficas sempre me levaram a concluir que, mesmo com a transferência do centro administrativo da colônia ter sido deslocado para outra região, Salvador e o Recôncavo nunca teriam perdido importância econômica. Ao contrário, essa robustez é sempre reforçada por historiadores e estudiosos, a exemplo de Vilhena, Kátia Mattoso e Risério, entre outros. Por isso, acho viável a motivação para este evento ter sido de ordem política. Porém, confesso que careço de fontes que ratifiquem essa posição. De qualquer maneira, esta possibilidade passará a fazer parte das questões a serem lançadas e/ou discutidas com alunos em sala de aula, com a honestidade que a tarefa impõe, qual seja, levantando a hipótese, mas informando da carência de fontes que a reforcem ou a validem. Quem puder elencar algumas referências, agradeço.
ResponderExcluirComo resposta visualizar http://historiadanossaterra.blogspot.com.br/2013/10/um-possivel-caminho.html
ExcluirBraz...eu tentei escrever nessa perspectiva. A importância de Salvador como metrópole da colonia. mas o fiz bem. Compreendo sua indagação e sua analise.
ResponderExcluirAchei ótimo você escrever sobre essa perspectiva. Afinal, alguém que possa dividir essa inquietação comigo! Assim, talvez possamos ter a pretensão de chegar a algumas conclusões ou, mais simploriamente, estabelecer algumas considerações, fruto de questionamentos lançados no texto de abertura deste blog, o qual foi objeto de seu interesse.
ExcluirA primeira delas é que, de acordo com a maioria dos autores, Salvador realmente era o maior porto do Atlântico Sul entre os séculos XVII e XVIII, status justificado pelo comércio ativo com Portugal, África e Ásia; com isso, também podemos responder a outra inquietação: a de que realmente havia uma economia paralela à agricultura monopolizada pelos lusitanos. Mais ainda, percebe-se que a “brecha” para o comercio internacional conseguiu ser autônomo às expensas de Portugal, o que causaria um “constrangimento”. Contudo, parece ser fato por parte de alguns autores (VILHENA) que o comércio interno da Colônia portuguesa não era tão grande assim, durante aquele mesmo espaço de tempo, não nos dando uma ideia de mercado, face aos diversos problemas que caracterizaram sua inconstância. Devido a esse comércio internacional, sem dúvidas que uma camada poderosa de comerciantes estava sendo constituída.
Mas, e quanto a possibilidade de “sabotagem” para a decadência política de Salvador, num período em que nessa cidade aflorava riquezas? Gostaria de ter informações dos raros livros de Kátia Mattoso para ter a possibilidade de chegar a uma certeza, ou me aproximar dela. Ou mais: será que houve ordenações régias para levar o comércio interoceânico protagonizado por Salvador a uma decadência? E se existentes, essas leis não seriam um suicídio para Portugal, ou na verdade a autonomia da então capital da Colônia era uma ameaça tão grande, a ponto de ser necessária sua decadência?
Solicito que você e/ou qualquer outro curioso possam me ajudar a encontrar as considerações restantes, ou até mesmo criar novas expectativas quanto ao assunto.
Fonte:
VILHENA, Luís dos Santos. A Bahia no século XVIII. Vol. 1 – Salvador: Itapuã, 1969.
Olá Braz,
ExcluirPenso que a mudança da capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro pode ter sido sim com o objetivo de desarticular a Bahia, no sentido de, naquele momento, poderia ganhar autonomia. Isso seria um problema muito sério para a Coroa Portuguesa. Assim como você também vejo uma fragilidade nas fontes, porém as discussões do professor Alfredo Matta me fez ver muita lógica nesta perspectiva. Parabéns pelo blog.
Essa desarticulação pôde ser observada com as intensões de Pombal em retomar o controle do comércio para a Coroa; contudo, parece que a ação não tinha caráter destrutivo, mas inclusivo; ou seja, trazer o controle comercial para “mais perto”, de forma mais efetiva.
ExcluirNo entanto, continuo tendo problemas com as fontes para algo mais elucidativo. Postarei sobre três outros autores: Ciro Flamarion Cardoso, Jorge Pereira e Fernando Dores Costa, mas não acerca do que realmente anseio encontrar, com objetividade.
Existem partes de uma história presa à escuridão cujos fatos parecem ser difíceis de ir à luz. Não creio que isso seja proposital, mas sim desimportante aos olhos de muitos, perante tanto do que já se escreveu e tanto o que já nos acomodamos a ouvir. Resumindo, vejo muita carência de referências, pois parece que sobre a Bahia Colonial poucos desejam escrever. Talvez esse seja o porquê.
Olá Braz,
ResponderExcluirMesmo com toda desarticulação de poder em Salvador, a HINTERLÂNDIA no Recôncavo Baiano segue como uma das poucas regiões do Brasil que conseguiu manter a sua identidade própria e nem ao menos variação de sotaque.
Concordo com sua observação, Arismar, mas acredito que face ao contexto, isso seria esperado, pois mesmo deixando de ser uma suposta metrópole colonial, Salvador era a capital da capitania, depois da província e, mais adiante, do estado. Seria normal, mesmo contando com as diferenças entre metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo e a “cidade da Bahia”, esses centros urbanos receberam influências maiores e diversas.
ResponderExcluirContudo, com relação à hinterlândia, ou especificamente o Recôncavo baiano, será que seu quase “isolamento” não seria natural por conta da decadência econômica? Cachoeira, Maragogipe, São Felix e imediações talvez fossem conhecidos, internacionalmente, há séculos atrás porque marcavam com sua produção açucareira. E quando essa produção decaiu, ou passou a ser menos conhecida do que a concorrência, especialmente a caribenha, não seria natural esse retraimento?
Vale recordar que o Recôncavo produzia outras coisas como mandioca, fumo, etc., mas nada que atraísse grandes investidores ou uma população ávida por riquezas como a corrida do ouro brasileira, a “revolução” industrial paulista ou a centralização política carioca. O que teria o Recôncavo a oferecer, a não ser lutar para manter suas populações fixadas em seu território? Sabemos que houve evasão, e posso falar, particularmente, porque minha família foi um produto desse contexto. Se olharmos uma Cachoeira dos dias atuais e imaginarmos uma fervilhante Cachoeira nos século XVII parece que são duas cidades diferentes, embora, até hoje, ela mantenha uma beleza incomum que nos remete a uma verdadeira era de ouro da produção agrícola brasileira.
Olá Braz!!!
ResponderExcluirMuito importante colocar em pauta esse tema!!!
Acredito que devemos analisar a perspectiva econômica e social da Bahia, a partir de vários vieses, que norteiam a conjectura do processo histórico. Em relação a perspectiva econômica, o porto de Salvador, tinha uma importância, muito grande nesse processo, para a economia regional e mundial, que mantinha a cidade como um forte polo de exportação e importação. Como em todo processo histórico, as tensões existiam também entre as elites econômicas que defendiam interesses econômicos, e em consequência disto geraram diversos atrasos nos planos sociais, financeiros e políticos. Apesar da perda de prestígio político a nível nacional, o mercado de Salvador continuou forte ao longo dos séculos.
Sem dúvida que até antes da transferência da capital para o Rio de Janeiro, Salvador tinha uma importância absoluta como porto de negociações de entrada e saída de produtos. Com a perda do prestígio político a cidade continuou a ser um grande polo comercial, embora com altos e baixos.
ResponderExcluirDe acordo com Franklin Oliveira Jr., mais tarde, já com a presença da família real no Brasil ocorreu dinamização do comércio de importação e exportação, longe de um modelo monopolista, mas com uma "liberdade consentida e vigiada". Os produtos continuavam os mesmos, os de base tropical para exportação, enquanto que escravos, vinhos e tecidos provocavam um déficit por causa do grande volume de importações.
No final do Brasil colonial, e início do curto período do Reino Unido a Portugal e Algarve, o porto de Salvador apresentava uma amplitude internacional e um significado para as práticas comerciais internas; a cidade também fervilhava, especialmente na zona comercial (atual Comércio) com seus trapiches, diversos estabelecimentos comerciais (com base nas licenças de funcionamento) e dos variados tipos de embarcações, de grande a pequeno porte, estas garantindo o comércio com o interior.
Fonte:
OLIVEIRA JR. Franklin. Canal Conde dos Arcos, uma obra visionária no Período Joanista. Salvador: Empresa Gráfica da Bahia, 2008.