domingo, 13 de outubro de 2013

Permissão aos ingleses... Contrabando dos baianos

Tentando compreender o quanto Salvador ameaçava os considerados donos do comércio transoceânico, percebe-se em Charles Boxer um comentário sobre a participação inglesa no comércio, não apenas de Portugal, mas também do Brasil, no século XVII, visto que os lusitanos da metrópole não apresentavam competência para ter uma frota exigida que respondesse a essa atividade crescente. Interessados no comércio triangular (Portugal – Angola – Brasil), os ingleses tinham todos os motivos para inibir o acesso de comerciantes baianos a essa atividade, especialmente no que se refere ao tráfico negreiro. Aos baianos e portugueses, possivelmente comerciantes, restavam ver com desconfiança o aumento da influência inglesa nesse comércio, este permitido pela Coroa lusitana.
Boxer também confirma o poderio de Salvador como segunda cidade do Império Português, assim como o contrabando como prática corrente, havendo leis para impedi-lo. Contudo, segundo este autor, as relações entre Bahia e as Índias (Goa) seria tolerada, visto que era a única forma em que os lucros ficariam nas mãos de luso-brasileiros, em um universo comercial controlado pelos ingleses.
Vilhena confirma as ações de contrabando e praticamente a justifica devido Salvador ser uma cidade “menos policiada”. Essa falta de controle pode ter facilitado um crescimento autônomo, longe dos olhos do Pacto Colonial, de comerciantes baianos, possibilitando o surgimento de uma camada de indivíduos que tivessem influência comercial local e até mesmo fora da Bahia.


Fontes:


BOXER, Charles R. A idade de ouro do Brasil. 3. Ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.


VILHENA, Luís dos Santos. A Bahia no século XVIII. Vol. 1 – Salvador: Itapuã, 1969.

4 comentários:

  1. BOXER tem uma bibliografia relevante sobre o período colonial brasileiro , sobretudo, quando parte da história regional compondo um panorama nacional por meio das áreas que representam o território brasileiro.Ao tratar do contrabando, ressaltando a questão da tributação e práticas ilegais da exploração de ouro entre outros produtos , acredito que temos aí indícios de que as alianças luso-britânicas, favoreciam aos ingleses economicamente, portanto, luso-brasileiros tinham interesse em criar outro comércio como alternativa para lucrar em cima da riqueza produzida/encontrada na colônia, através da chamada Carreira da Índia. Até aí compreendo. Gostaria de saber se esse processo possibilitou articulação entre os comerciantes baianos com outra região do Brasil.Como isso foi feito? Temos referências?

    Katiane Alves

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    1. Com relação ao questionamento sobre a articulação entre comerciantes baianos e de outras partes do Brasil, pode-se dizer que o forte dos contatos comerciais daqueles foi com o mercado externo. Dos autores que tive contato, Vilhena foi enfático ao informar que havia um comércio, mas não muito regular, por força de diversos impedimentos, tais como fatores naturais, legais, financeiros e devido à concorrência, esta entre a Bahia e o Rio de Janeiro, que fez reduzir as transações comerciais dos baianos com Minas Gerais. Com o Nordeste, mais especificamente o Ceará, ocorreu o problema da seca, fazendo os baianos buscarem alguns produtos, principalmente o charque, no Rio Grande do Sul. Com o que hoje chamamos de Estado de São Paulo esse comércio era quase inexistente; na Capitania de Goiás, as relações comerciais também se reduziram, visto que havia um grande endividamento desta praça para com os comerciantes baianos. Na própria Capitania de Ilhéus, local aparentemente mais próximo e acessível aos comerciantes de Salvador, havia proibições legais para a extração da madeira, que seria de grande interesse, e para o plantio de mandioca, necessária para fabricação da farinha, produto desejado por aqueles comerciantes (proibição não explicada pelo autor), sendo todas as informações com base no ano de 1798.
      Com certeza, percebe-se que havia contatos comerciais entre os comerciantes baianos e os de outras praças, mas, sem querer ser tendencioso, mas com base em resquícios de nosso aprendizado, havia nesses locais a existência de uma economia de subsistência ou de mercados locais; voltando então para as informações de Vilhena, e nas dificuldades por ele apresentadas, não havia uma situação que configurasse a existência de mercado interno contínuo. Ao que parece, e citaremos Mattoso, Boxer e o próprio Vilhena, o surgimento de uma camada de comerciantes poderosa em salvador, a ponto de ameaçar Lisboa e até mesmo os ingleses, vinha de contatos comerciais com pontos no exterior da Colônia.
      Ademais, gostaria de obter outras fontes e comentários de leituras acerca da existência dessa articulação entre comerciantes, dentro da então Colônia portuguesa.

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  2. Esse é um debate interessante para se pensar as (diversas) motivações do abolicionismo inglês. Podemos concluir que não só motivações humanitárias motivavam as campanhas abolicionistas, leis e políticas internacionais dos ingleses pelo fim da escravidão, tendo como alvo principal Brasil, Cuba e Estados Unidos.

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    1. Sem dúvida que o abolicionismo inglês, inspirado pelos ideais iluministas, foi mais que uma companha humanitária. Aqui não quero dizer que não havia ingleses com esse sentido, mas, em se tratando dos comerciantes ingleses poderia haver segundas, e verdadeiras, intensões.
      A primeira delas é o que sempre se divulga pelo senso comum, mas que possui veracidade. Comercializando com países como o Brasil e os EUA - não posso falar de Cuba, pois não conheço que relações os ingleses possuíam com a ilha caribenha – os ingleses tencionavam criar um mercado consumidor para adquirir seus produtos, embora, com relação aos norte-americanos, fosse favorável aos estados escravistas do Sul, na Guerra Civil. É bem possível que a intensão dos ingleses fosse dobrar os estados do Norte, estes uma verdadeira ameaça futura aos ingleses com seu desenvolvimento manufatureiro a partir de uma base de mão de obra livre. Com relação ao Brasil, o trabalho era exercido, amplamente, pelos escravos, e vale lembrar que desde os Tratados de 1810, com D. João presente no Rio de Janeiro, os britânicos pediam o fim do tráfico negreiro. Sendo um dos maiores parceiros comerciais dos ingleses, era necessário o fim de um regime de trabalho que não consumia, pois não recebia salário. Nota-se ai uma cruzada de persistência dos britânicos em banir o trabalho escravo em plena fase de expansão da Revolução Industrial.
      Outra situação, é que o tráfico negreiro “sangrava” a África com a vinda de seus habitantes para o Brasil ou para outros locais escravistas (EUA e Cuba?). Quem seria a mão de obra para os interesses ingleses naquele continente?
      Os britânicos toleravam o tráfico negreiro feito pelo Brasil, e eles também foram comerciantes por um tempo, mas como retaliação às Tarifas Alves Branco, que fizeram aumentar os impostos de importação atingindo, especialmente, os produtos comercializados pela Inglaterra, o Parlamento britânico lançou o Bill Aberdeen proibindo e penalizando quem fizesse o tráfico transoceânico de africanos. Por que não o fizeram antes? Onde está o senso humanitário nesses casos?

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