
Fui procurar autores que comentam sobre o Brasil na época
de Pombal, ou especificamente acerca da Bahia, e da mudança da capital da
Colônia para o Rio de Janeiro, assim como o período joanino, a fim de observar
acerca dos reflexos exercidos pelas mudanças políticas do século XVIII.
Inicialmente, Ciro Flamarion Cardoso comenta que a partir
de 1750 a situação do Brasil perante a Coroa portuguesa se fez mais nítida,
mostrando a dependência que a metrópole tinha para com sua possessão na América.
Foi um momento não tão confortável para senhor e servo por causa da decadência
da produção mineradora.
O mesmo autor cita que apesar de haver um regimento
estabelecendo um rigoroso exclusivo colonial de caráter mercantilista, esta
seria uma situação aparente, visto que havia desobediência por parte de
comerciantes da Colônia. Assim, cidades como Salvador, Recife e Rio de Janeiro
comercializavam, por exemplo, com a África Ocidental.
O crescimento de Salvador, superando Recife, além do
crescimento do Rio de Janeiro na década de 1750, também são defendidos pelo
autor. Vale lembrar que nesta década, o marquês de Pombal assume o ministério e
tenta reimplementar o mercantilismo de fato, agora mais incisivo sobre o
comércio colonial, por parte de Portugal, monitorando as rendas ficais e
desmantelando a economia, acredito que a praticada pelos luso-brasileiros.
A artimanha de Pombal é percebida quando o Flamarion
divulga que o ministro não desejava destruir a economia da terra, mas
integrá-la através dos comerciantes de algumas praças, estes sendo sócios
menores de companhias de comércio portuguesas, fato que geraria
descontentamento. A partir disso, acredito que com relação à Bahia, tal decisão
cairia como solução, em benefício à burguesia portuguesa, visto que se Salvador
estava sendo uma ameaça, a articulação de Pombal teria um caráter inclusivo,
mas não diretamente destrutivo, afinal a riqueza precisava continuar a fluir
para o Império. É claro que isso seria, em um futuro próximo, uma desarticulação
da autonomia que Salvador poderia ter construído.
Contudo, o próprio Centro-Sul, conforme o mesmo autor,
também viria a contribuir para a questão da mudança da capital para o Rio de
Janeiro. O reflexo disso seria o crescimento da imigração portuguesa e da
chegada de mais escravos para essa região (decadência do Nordeste?). Além disso,
a posição estratégica ocupada pelos fluminenses, próxima à região mineradora e
mais próxima que Salvador dos problemas de fronteiras no Sul com a América
espanhola, foram profícuos para a decisão.
Escrevendo sobre um período mais adiante, a vinda de D.
João para o Brasil, Jorge Pereira e Fernando Dores Costa comentam sobre a
paralisia sofrida pelos comerciantes baianos à chegada da esquadra real na
Bahia em 1808, sem deixar de descrever acerca da importância de Salvador, mesmo
não tendo o título de capital da Colônia, confirmando o que outros autores citaram
ao chamá-la de “encruzilhada do Império Português”, que estabelecia comércio
com a África e com a carreira da Índia em séculos passados.
A recessão dessa rede comercial se daria na primeira
metade do século XVIII por problemas na comercialização do açúcar e do tabaco e
por causa do elevado custo da mão de obra africana devido a demanda desta na
região mineradora. Apesar da queda, os autores não são os primeiros a citar
acerca da recuperação de Salvador, informando que devido as guerras na Europa,
nas quais Portugal se manteve neutro, houve uma alavancagem do comércio dos
produtos tropicais.
Fica bem claro quando Pereira e Costa, ao descreverem que
apesar da existência do comércio dos brasileiros com outras partes como a África,
e da prática do contrabando, existia o controle importador e exportador por
parte de Lisboa e Porto, além da manipulação de linhas de crédito por parte
dessas duas cidades, que organizava e controlava essas relações. Aqui já se mostra
bem clara a retomada do controle por parte da burguesia portuguesa no período
joanino, assim como a redução do volume comercial de participação da burguesia
colonial, seja ela baiana, pernambucana ou fluminense. Ao mesmo tempo, não
podemos enxergar ai que houve uma paralisia nos portos coloniais, mas essa
resistência, com seu volume comercial não tão agressivo, talvez não mais provocassem
receios de que cidades como Salvador se tornassem por demais autônomas, mesmo
porque a família real estava presente em solo brasileiro e o controle seria
exercido, a exemplo do abafamento da Insurreição Pernambucana (1817), quando as
queixas sobre o domínio do comércio por parte dos portugueses viria à tona.
FONTES
CARDOSO, Ciro Flamarion. A crise do colonialismo luso na
América Portuguesa. In: LINHARES, Maria Yedda (Org.). História Geral do Brasil. 9 ed. Rio de Janeiro: Elseveer, 1990 –
26ª Reimpressão.
PEREIRA, Jorge e COSTA, Fernando Dores. O príncipe do
Brasil (1808 – 14). In: _______________. D.
João VI, um príncipe entre dois continentes. São Paulo: Companhia das
Letras, 2008.
Imagem disponível em: http://joaomendesreflexaodehistoria.blogspot.com.br/2010/11/marques-de-pombal-e-as-medidas.html. Acesso em 27/10/2013.
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